quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Poesia nossa de cada dia.

                                                        PAULO JOSÉ CUNHA
                                                           O SACO 

As mãos vazias do rico 
exibem a prova do alcançado. 

Não mais mãos do afazer, mas do já feito;

bem tratadas, finas, alisadas,

são mãos que não carregam nada, 

pois carregar já não lhes diz respeito.



Mas todo pobre, sim, carrega um saco
onde transporta o apurado 

do ir-e-vir de que se ocupa:

garrafa azul, vazia (linda pra botar 

rosa de plástico!); sobra de almoço;

produto de furto miúdo,

que ajuda a garantir o passadio; 

miudeza de camelô, pano de prato, muda de planta;

revista velha com retrato de artista; 

essas coisas.
Pelas paradas de ônibus,
filas da beneficência e ruas de comércio,

observe: 

todo pobre arrasta um fardo, 

uma tarefa, uma sina, 

um-que-fazer-eterno

guardado num saco branco, 

desses de supermercado, 

de plástico leitoso, com alcinhas.

Um saco nem leve nem pesado, 

mas incômodo feito pobreza incompleta 

(pobreza dessas 

que a morte 

nem se preocupa em cumprir

na inteireza).

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