O SACO
As mãos vazias do rico
exibem a prova do alcançado.
Não mais mãos do afazer, mas do já feito;
bem tratadas, finas, alisadas,
são mãos que não carregam nada,
pois carregar já não lhes diz respeito.
Mas
todo pobre, sim, carrega um saco
onde transporta o apurado
do ir-e-vir de que se ocupa:
garrafa azul, vazia (linda pra botar
rosa de plástico!); sobra de almoço;
produto de furto miúdo,
que ajuda a garantir o passadio;
miudeza de camelô, pano de prato, muda de planta;
revista velha com retrato de artista;
essas coisas.
onde transporta o apurado
do ir-e-vir de que se ocupa:
garrafa azul, vazia (linda pra botar
rosa de plástico!); sobra de almoço;
produto de furto miúdo,
que ajuda a garantir o passadio;
miudeza de camelô, pano de prato, muda de planta;
revista velha com retrato de artista;
essas coisas.
Pelas
paradas de ônibus,
filas da beneficência e ruas de comércio,
observe:
todo pobre arrasta um fardo,
uma tarefa, uma sina,
um-que-fazer-eterno
guardado num saco branco,
desses de supermercado,
de plástico leitoso, com alcinhas.
Um saco nem leve nem pesado,
mas incômodo feito pobreza incompleta
(pobreza dessas
que a morte
nem se preocupa em cumprir
na inteireza).
filas da beneficência e ruas de comércio,
observe:
todo pobre arrasta um fardo,
uma tarefa, uma sina,
um-que-fazer-eterno
guardado num saco branco,
desses de supermercado,
de plástico leitoso, com alcinhas.
Um saco nem leve nem pesado,
mas incômodo feito pobreza incompleta
(pobreza dessas
que a morte
nem se preocupa em cumprir
na inteireza).
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