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Protógenes: Nada sensibilizou tanto como o que vi em Pinheirinho
Agora
como deputado federal do PCdoB-SP, novamente Protógenes está no centro
dos acontecimentos da conjuntura brasileira. Foi o autor e praticamente
sozinho conseguiu criar na Câmara dos Deputados a CPI da Privataria. Há
poucos dias, foi dos únicos parlamentares a acompanhar de perto as
atrocidades cometidas pelo governo de São Paulo e sua polícia em
Pinheirinho, na cidade de São José dos Campos.
Nesta
entrevista para o Vermelho, Protógenes faz um balanço dos
acontecimentos recentes e confessa que está revigorado de esperança
graças ao giro que tem feito pelo país, participando ao lado do
jornalista Amaury Ribeiro Junior do lançamento do livro A Privataria
Tucana. Já foram feitos lançamentos em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto
Alegre e estão programados em Belo Horizonte (dia 6) e Brasília (dia
15).
Vermelho: Como têm sido os lançamentos do livro A Privataria Tucana pelo Brasil afora?
Protógenes
Queiróz: Estou vendo esses lançamentos como atos de chamamento e
mobilização nacional do povo brasileiro para reacender o debate sobre as
privatizações. Existe uma grande curiosidade e indignação dos
brasileiros no sentido de entender o que aconteceu naquela quadra
histórica. Todo mundo quer saber o que houve como o dinheiro arrecadado
com a venda das estatais.
Está
muito vivo na mente dos que viveram naquela época o discurso de que os
tucanos vendiam estatais para investir em políticas públicas que diziam
prioritárias. Mas não foi o que aconteceu, essas políticas nunca foram
cumpridas e na verdade não aconteceram vendas e sim negociatas do
patrimônio público. O dinheiro desapareceu. O livro do Amaury trouxe
esse debate à tona e como tenho dito, é um documento incontestável que
mostra em detalhes como foi conduzido aquele processo.
Como
deputado, tenho a obrigação de levar essa discussão para a Câmara, não
para fazer uma revisão do processo, pois não temos força para isso, mas
para fazer um reencontro do Brasil com essa verdade histórica. Entender
como alguns conseguiram ficar milionários da noite para o dia à custa do
suor do povo brasileiro, que foi quem na prática construiu por décadas
as estatais que foram entregues no processo de privatização.
Vermelho:
E como tem sido a receptividade do público que participa destes
debates, qual a expectativa deles para os próximos passos?
PQ:
O público tem correspondido a esse chamado. A maioria que participa
destes eventos quer se engajar nesta luta. O próprio sucesso de vendas
do livro é uma prova disso. O número de livros vendidos surpreendeu a
todos, inclusive ao autor. Qual brasileiro não se pergunta quanto aos
altos preços cobrados pelas operadoras de celular? Qual brasileiro não
se indigna ao ver a Vale operando em vários estados e enviando nossas
riquezas para fora sem pagar os impostos justos, pois os royalties do
minério são irrisórios. Há uma incompreensão do povo brasileiro quando
vê as nossas riquezas indo embora e não voltando nada para ser investido
por aqui. Tem também os trabalhadores que atuavam nas empresas
privatizadas. Quantos perderam seus empregos, existem casos de bancários
que até se suicidaram depois de perder o emprego em bancos
privatizados.
Vermelho:
No final do processo legislativo do ano passado, o senhor conseguiu o
número necessário para a instalação da CPI da Privataria. Qual sua
expectativa para esse ano legislativo que começa nessa semana?
PQ:
Cumprimos todos os ritos regimentais, ao fundamentar o pedido de CPI e
protocolar junto à presidência da Casa com o número necessário de
assinaturas para sua instalação, como você disse. Daqui para frente
confio nos próximos passos regimentais para a sua efetiva instalação.
Pelo que estou rodando pelo Brasil vejo que há uma pressão popular muito
grande para a sua instalação. O mais importante já está acontecendo,
que é ter um debate sobre o processo de privatização.
Vermelho:
O senhor teve uma participação destacada em defesa dos moradores que
foram desocupados de Pinheirinho. Inclusive foi um dos parlamentares que
acompanhou de perto a ação policial. O que viu naquele dia?
PQ:
Confesso que muito me chocaram aquelas cenas da desocupação. Em doze
anos de Polícia Federal e nesse ano de deputado, nada me sensibilizou
tanto quanto o que vi ali em Pinheirinho. Fiquei assustado com o
autoritarismo praticado, não se teve o mínimo de bom sendo para tratar
com dignidade aquele povo. A juíza, os governantes, a polícia deixaram
de lado os valores do ser humano. Foram indiferentes ao fato que ali
estavam seres humanos, mulheres, crianças, idosos, brasileiros pobres
que só estavam morando ali há anos porque não tiveram outra opção de
habitação. O Estado, que deveria ali defender os interesses do povo,
praticou um total desrespeito aos direitos humanos.
Vermelho: E a batalha está perdida? O que o senhor tem feito em relação ao assunto?
PQ:
Partimos para uma ação concreta. Estamos investigando a origem da
propriedade. Sabemos que aquela área pertenceu a uma família que foi
chacinada na década de 1960 e pode ter sido invadida por grilagem. Já
pedi a certidão centenária para fazer um histórico até os dias de hoje.
Saber como aquele terreno foi parar nas mãos da empresa de Nagi Nahas, e
olha em que mãos (risos). Podemos ficar tranquilos que também nesse
caso a verdade vai aparecer e não vai demorar.
Vermelho:
Em Pinheirinho, quando o senhor estava defendendo os moradores contra a
selvageria da polícia, o que passou pela sua cabeça?
PQ:
Agi naquele episódio em defesa da democracia brasileira. Foi uma
resposta contra o autoritarismo. Minha geração enfrentou a ditadura e
não podemos ver impunemente o autoritarismo voltar para nosso convívio.
Pratiquei ali uma ação cidadã, não parlamentar. Fui movido ali pelos
sentimentos de um brasileiro que acredita nos poderes da República. Mais
do que na força da República, acredito acima de tudo na força do povo
brasileiro que é o verdadeiro construtor do nosso país. No povo que
luta, que batalha dia a dia para criar seus filhos e que viu naquela
área a única forma de dar um teto para sua família. Agi pela crença
nesse povo que tem a capacidade de resistir. Estive em Pinheirinho e
estou do lado do seu povo porque acredito na democracia brasileira.
Antes de tudo, pratiquei ali uma ação de cidadania.
Fonte: Vermelho