domingo, 28 de abril de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
terça-feira, 19 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
Escritor e jornalista Júlio Romão morre aos 95 anos em Teresina Membro da Academia Piauiense de Letras é reconhecido por trabalho na imprensa do Rio de Janeiro e outras áreas.
O escritor, jornalista, etnólogo e teatrólogo Júlio Romão da Silva,
faleceu na manhã deste sábado (9) aos 95 anos. Ele trabalhou na imprensa
do Rio de Janeiro, ao lado de nomes como Graciliano Ramos, e ocupava a
cadeira número 31 da Academia Piauiense de Letras.
APL
Romão durante o lançamento de coletânea com suas obras, em dezembro
Em
dezembro, a Academia Piauiense de Letras e a Universidade Federal do
Piauí (UFPI) lançaram "Júlio Romão da Silva: entre o formão, a pena e a
flecha", publicação que reúne livros e artigos do escritor, organizada
pelo professor Élio Ferreira e o teatrólogo Ací Campelo.
A
notícia foi confirmada ao Cideverde.com por Ací Campelo. Ele revelou
que estava produzindo um documentário, ainda em fase de edição, e chegou
a realizar mais de seis horas de entrevista com Romão.
Élio
Ferreira acrescentou ao Cidadeverde.com que Júlio Romão já estava com a
saúde debilitada. O escritor se preparava para procurar um médico
quando faleceu em sua casa, na zona Sudeste.
O velório acontecerá na Pax União, avenida Miguel Rosa - Centro/Sul -, e deve começar até o final da manhã.
Júlio
Romão nasceu em 22 de maio de 1917. Superou a vida pobre e saiu de
Teresina para São Luís (MA) e depois o Rio de Janeiro, onde chegou a
mendigar, mas conseguiu se sobressair. O jornalista é nome de rua na
cidade do Rio de Janeiro e também cidadão carioca.
Um
dos pioneiros nos movimentos pela luta da igualdade racial no Brasil,
em 2010, Júlio Romão recebeu da Universidade Federal do Piauí o título
de Doutor Honoris Causa.
UFPI
Na UFPI, doutor honoris causa em 2010
Sua
bibliografia reúne obras como: Os Escravos, 1947; O Monólogo dos
Gestos, 1968; José, o Vidente, 1974 (teatro); Luís Gama e Suas Poesias
Satíricas, 1954; Geoonomásticos Cariocas de Procedência Indígena, 1962;
Evolução do Estudo das Línguas Indígenas do Brasil, 1965; A Mensagem do
Salmos; Denominações Indígenas Indígenas na Toponímia Carioca, 1966,
Cultura Humanística em Portugal e Arte de Biografar, 1974; Louvado Seja
Castro Alves, 1975; Geolingüística de Fronteira e os Anjos Caídos.
Fábio Lima
fabiolima@cidadeverde.com
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
Assis Brasil - 81 anos, a maior parte dedicado a literatura, viva o grande Assis Brasil!
Francisco de ASSIS Almeida BRASIL nasceu no dia 18 de fevereiro de 1932 em Parnaíba, Piauí, cidade onde existe uma fundação cultural com o seu nome. É romancista, cronista, crítico literário e jornalista. Como crítico literário, atuou intensamente na imprensa brasileira, especialmente no Jornal do Brasil, Diário de Notícias, Correio da Manhã e O Globo e na revista O Cruzeiro, Enciclopédia Bloch e Revista do Livro. Ele é o membro número 36 da Academia Parnaibana de Letras. Embora ainda não faça parte da Academia Brasileira de Letras, existe uma forte movimentação neste sentido.
Recuando a carreira artística, Assis Brasil começou com teatrinho organizado por sua mãe em Parnaíba. Era uma espécie de vaudeville musicado e falado. A representação ficava a cargo de alguns garotos da cidade, revertendo o valor das entradas em benefício da igreja local. A mãe tocava piano e declamava, e ASSIS BRASIL, num trio fazendo o papel de engraxate, cantava e dançava, aos dez anos de idade.
Desde menino foi-se habituando à música, aos livros, sendo um mau aluno no colégio, mas um bom leitor. Enjoados do teatro, os meninos resolveram montar um circo no quintal da casa de ASSIS BRASIL, com palhaços e trapezistas e entrada paga. A mãe não se meteu, mas o pai, também dado às leituras, gostava de longe. Os primeiros estudos primário e parte do secundário, foram feitos no então Instituto São Luiz Gonzaga do professor José Rodrigues.
Aos 12 anos, ASSIS BRASIL foi como interno para o Colégio São João, em Fortaleza, no Ceará, onde terminou o ginasial e fez o científico. Aos 15 anos, influenciado pelo professor de português, e com tema por ele escolhido, escreveu seu primeiro texto literário, um apólogo intitulado O poste e a palmeira, inspirado num apólogo de Machado de Assis. Este trabalho foi publicado na Gazeta de Notícias em 1948. À época, uma crônica sua é publicada no jornal O Radical. Tal crônica lhe dá o tema para escrever o primeiro romance, Verdes mares bravios, publicado em 1953 no Rio de Janeiro, pela Editora Aurora, e reeditado em 1986 pela Melhoramentos de São Paulo com o título de Aventura no mar, e indicado para a área infanto-juvenil. O livro é ainda hoje comercializado. As suas obras infanto-juvenis são adotadas em inúmeras escolas brasileiras.
Tem mais de 100 obras publicadas, entre elas Beira Rio Beira Vida, 1965; A Filha do Meio Quilo, 1966; O Salto do Cavalo Cobridor e Pacamão (Tetralogia Piauiense); Os que Bebem como os Cães (Ciclo do Terror); Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos, Jovita e Tiradentes (romances históricos). Mais abaixo, apresentamos a sua bibliografia completa.
Em fins de 1949, ASSIS BRASIL viaja para o Rio de Janeiro no navio Itaimbé da extinta Companhia de Navegação Costeira, indo trabalhar como Oficial Administrativo na Prefeitura de Duque de Caxias nos tempos de Tenório Cavalcanti. O segundo emprego foi de auxiliar de escritório numa imobiliária, Companhia Geral de Empreendimentos, que urbanizou a área de Piratininga em Niterói. Mais tarde foi Correspondente (redator) do setor de propaganda das casas Pernambucanas, enquanto estudava jornalismo, à noite, na Pontifícia Universidade Católica. As refeições eram feitas no Restaurante dos Estudantes, no Calabouço, localizado próximo ao Aeroporto Santos Dumont, foco de agitação política no período 1945-1955.
Em 16 de setembro de 1956, ASSIS BRASIL entra para a imprensa do Rio de Janeiro, já como crítico literário profissional do Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, que iria abrigar as correntes vanguardistas e divulgar escritores da literatura universal e os brasileiros esquecidos, tais como Adonias Filho, Clarice Lispector, Autran Dourado, Geraldo Ferraz, João Cabral de melo Neto, sobre os quais ASSIS BRASIL dedicou estudos. Além da crítica literária, o escritor traduz ensaios sobre a obra de William Faulkner e contos de Carson McCullers, e escreve ainda para o cinema sob o pseudônimo de Castro Mussél. À época, Tristão de Athayde ganhava 600 cruzeiros por artigo e eu ganhava 2 mil", declarou ASSIS BRASIL numa entrevista.
O escritor, sempre um trabalhador intelectual, escreve para inúmeros outros jornais do país. Na época da maior repressão do regime militar, entre 1967 e1968, lecionava Técnica de Jornal na Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhava como copidesque no jornal Tribuna da Imprensa. Tanto a universidade quanto o jornal eram sistematicamente invadidos pela polícia e pelo DOPS. Um dos temas de aula de ASSIS BRASIL, então, do ponto de vista político, foi o assassinato do estudante Edson Luís Souto no Calabouço. Também à época, em 1968, ASSIS BRASIL vendia livros na Feira do Livro da Cinelândia, tendo já publicado os três primeiros romances de sua Tetralogia Piauiense.
Conquistou, em 1965, o Prêmio Nacional Walmap com o romance Beira rio beira vida. A partir dessa década ganha outros prêmios e não pára mais de publicar livros, tendo chegado ao número 100 em 1998, com o livro de novelas O sol crucificado. ASSIS BRASIL já exerceu diversos cargos ligados à sua área, como membro do Conselho de Administração da EMBRAFILME e do Conselho de Literatura do Museu da Imagem e do Som. Pertence às seguintes entidades: Academia Parnaibana de Letras, Academia Piauiense de Letras, Pen Clib do Brasil e Sindicato dos Escritores Profissionais do Riode janeiro.
Em 1995, quando do lançamento de sua antologia A poesia piauiense no século XX, ASSIS BRASIL é agraciado com a Medalha do Mérito Conselheiro José Antônio Saraiva, no grau de Oficial, da Prefeitura Municipal de Teresina. Em 9 de agosto de1996, quando de sua posse na Academia Piauiense de letras, recebe do governo estadual a Ordem Estadual do Mérito Renascença do Puauí, no Grau de Cavaleiro. A solenidade de entrega foi realizada em Parnaíba, cidade natal do escritor, no dia 14 de agosto de 1996.
Em maio de 1997, ASSIS BRASIL recebe no Rio de Janeiro o Diploma de Personalidade Cultural da União Brasileira de Escritores, por serviços prestados à cultura brasileira. Ainda neste mesmo ano, no dia 11 de novembro, ASSIS BRASIL é incluído no Quadro de Sócios Correspondentes da Academia Espírito-Santense de Letras, a Casa Kosciuszki Barbosa Leão. No ano seguinte, o Instituto Histórico e Geográfico do Espírito Santeo concedeu-lhe o título de Sócio Correspondente, ambas as entidades em reconhecimento pela publicação de A poesia espírito-santense no século XX. Ainda em 1988, no dia 27 de agosto, ASSIS BRASIL é homenageado no Rio de Janeiro, pela União Brasileira de Escritores, com a Medalha Veríssimo de Mello, por sua organização da antologia A poesia rio-grandense no século XX.
No dia 27 de maio de 1999, o Conselho Estadual da Cultura da Bahia consigna votode congratulações a ASSIS BRASIL e à Fundação Cultural do Espírito Santo pela publicação da antologia A poesia bahiana no século XX. No dia 5 de junho do mesmo ano, em Parnaíba, ASSIS BRASIL inaugura as novas instalações da Fundação Cultural Assis Brasil, co a presença do governador do estado. O jornal O Capital de Aracaju entrega a ASSIS BRASIL, em 29 de julho de 1999, o diploma de Intelectual do Ano, como "reconhecimento público de Resistência ao Ordinário" e pela publicação de A poesia sergipana no século XX. Em 23 de setembro do mesmo ano, a Sociedade Amigas da Cultura, de Belo Horizonte, MG, outorga a ASSIS BRASIL o Diploma de Honra ao Mérito "em reconhecimento aos relevantes serviçosprestados à cultura mineira", quando do lançamento de A poesia mineira no século XX.
Em 5 de novembro de 1999, em teresina, PI, ASSIS BRASIL foi agraciado com a Medalha Ordem do Mérito Cultural Wall Ferraz, "pelos relevantes serviços que tem prestado à cultura piauiense". Em 13 de janeiro do ano de 2000, ainda em Teresina, após palestra sobre O Romance Brasileiro no Século XX, ASSIS BRASIL recebe a Medalha Cultural Lucídio Freitas, da Academia Piauiense de Letras.
OUVINDO O “TRENZINHO CAIPIRA”, DE HEITOR VILLA-LOBOS,
ASCENSO FERREIRA E FERREIRA GULLAR, NA VOZ DE MARIA BETHANIA.
Antônio Campos
O guarda
da Estação dá o último apito de saída. E haja o suporte do limpa-trilhos
a limpar. E haja limpa-trilhos a limpar e trilhar. E haja rodas-guia a
guiar. E haja lubrificante do chassi a lubrificar. E haja balança de
equilíbrio de truques a equilibrar. E haja manga de eixo a balançar. Eu
vejo a alavanca de equilíbrio das rodas a equilibrar e sinto o feixe de
molas a sustentar. Agora, sim: chegou a vez das rodas de tração a
funcionar. E ouço as rodas do trem lentamente a rodar.
Bastou
abrir a janelinha para ver o passageiro lento no seu caminhar, todos
disseram: ele perdeu a hora da partida! A cena me faz lembrar um verso
de Cora Coralina: O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a
caminhada. E me surpreendo, vendo numa Lisboa distante, no Mosteiro de
São Bento, imagem remota passando rapidamente pela janela mágica desse
trem, o lema da Escola de Sagres: NAVEGAR É PRECISO, VIVER NÃO É
PRECISO. Da janela desse trenzinho de Interior, (olha o trem em
movimento!!!) dava para ver a noiva triste da Estação, beijando com o
seu olhar saudoso e com gestos de mãos o noivo que se vai. Lencinho
branco acenando como num poema parnasiano, embora seu choro seja
barroco. Tantos beijos, tantos beijos no seu anel de noivado. E vejo o
guarda da estação dizer à triste moça: tenha cuidado, minha doce
senhora, saia da plataforma!!! O trem já está em andamento, não chore em
vão, seu noivo nunca mais vai voltar. E não torne ainda mais triste o
passar de vagões por esta estação. Isso aqui parece uma saudade feita
de ferro sobre os trilhos do sem fim, e olhe como vem à lembrança o
poeta do desassossego!!!. (A sapata de freio, a roda de arrasto e a
cruzeta do trem estarão afinadas com o condutor?)
E vejo uma
jovem mulher à espera do amante que também não voltará jamais. (Como
são flamejantes o seu olhar!). Nem por uma sorte inesperada do Destino
ele voltará. Nem pela força dos Ventos Íngremes da Natureza, nem pelas
rezas dos anciãos do lugar, nem pelos feitiços das feiticeiras das
encostas e matas da cidadezinha. Onde mais ele poderia estar?
E vejo a
esfinge de outra mulher, filho novinho ao colo à espera do pai (outro
que também nunca mais chegará). E vejo uma velha devota à espera do Pai,
do Filho e do Espírito Santo, a Tríade Superior, como exclamaria nesse
instante um velho iniciado nas hostes de Plutarco. (Chegou a hora de
testar a caldeira, a fornalha e a válvula de segurança). E vejo o
cego, confiante no seu cão-guia, querendo entrar no trem, mas como!!! –
se a máquina de ferro já está em movimento? O animal com seus gestos
humanitários, me parece estar perdendo (pela velhice) as faculdades de
guia de cego. Esse quadro parece deixar todos passageiros comovidos. O
que será desse homem sem os olhos do seu cão? Uma cena para ser pintada
por um Cícero Dias, ainda mais legendada por um Mauro Mota, mas eles
pegaram outro trem.
E vejo um
jovem mascate com roupa de tons cáqui e gorro pardo na cabeça, a vender
apressadamente umas broas caseiras de goma, porque o maquinista não
espera. “Olha broa de goma, olha água fresquinha de beber, tirada da
cisterna!!!” Mas o que está na verdade no seu tabuleiro (o menino de
coração nobre e suas astúcias!) não são broas de goma, são um amontoado
de cantigas de ninar escritas em papel, aquelas que desapareceram para
sempre. (Tinha de tudo no tabuleiro do menino, menos aquela cantiga do
Boi da Cara Preta. Ou seja, você já reparou que as cantigas de ninar
soam mais como uma ameaça do que algo relaxante? Na verdade, as cantigas
de ninar não foram feitas para ensinar ou para dar medo, já que o seu
filho não vai se lembrar de nada, ou entender o que você quer dizer. As
cantigas foram feitas apenas para embalar a criança até que ela durma
profundamente e se aquiete quando você começar a cantar).
E vejo uma
mulher vestida de branco e lenço rubro na cabeça, estranhamente a sair
do vagão com a pressa dos ansiosos, e nele deixando os seus mínimos
pertences, até a sua pequena caixa de retoques, como se, longe da
plataforma, fosse rever o que na Estação jamais encontraria. (As rodas
do trem parecem ainda mais aceleradas, agora não vejo, apenas sinto: o
tempo possui apenas uma realidade: a do instante, que dura menos que um
raio solto no infinito escuro. Mas há um tempo que não passa jamais, o
da cerimônia do ADEUS). “Ó estações, ó castelos!/Quando tu partires,
enfim/Nada restará de mim./Ó estações, ó castelos!” – Ó Jean Nicholas
Arthur Rimbaud!!!
E vejo
agora, cruzando os trilhos da estação, não sei se saindo ou chegando,
uma bela mulher de cabelos negros, um rosto de beleza singular, como
aqueles raros semblantes que eternizam o momento único das nossas vidas.
(Parecia saída de um conto de fadas. O vento lhe despiu os membros, as
brisas agitaram-lhe as vestes e os cabelos). Ainda bem que o maquinista,
que sabe tanto de fagulhas soltas no ar, conduz a grande máquina em
velocidade escalar. E o foguista deixa por instantes de colocar lenha na
imensa caldeira, não mais alimentando as engrenagens de ferros e
quimeras.
E vejo
perto de mim a doce filha de Dona Canô, a louvar o trem que nunca vi,
porque ele passou depressa na minha estação imaginária (como o trem da
vida), levando um menino e no coração dele um sonho impossível de
ilustrá-lo nesta hora também imaginária, tamanho os seus sortilégios.
(Alguma feiticeira nesse instante teria largado o seu feitiço sobre o
vigia solitário da Estação, que adormece profundamente, sem que consigam
acordá-lo. O que, por favor, significa isso nas metáforas aqui
alongadas? Ainda não sei porque o homem perto de mim, neste vagão cheio
de tantos mistérios, lê – indiferente a tudo – o seu jornal, tudo indica
de outros dias imprecisos; e porque outro viajante desse trem não
consegue até agora acender com o fogo do isqueiro a ponta do
cigarro).
E vejo o
homem fardado às três horas da tarde, andando no meio dos vagões com a
lanterna acesa. E vejo o ponteiro mestre sinalizador do relógio da
estação parar exatamente às 3 horas da tarde. E sinto como num sopro
inesperado da memória, a lembrança do poeta de Andaluzia, porque foi,
nesta, a hora da sua covarde execução pelas costas, naquele fatídico
momento em que o sol de Andaluzia chegara ao auge da sua vigorosa
ascensão Sem julgamento, como foram executados no meu país, tantos
jovens, tantos sonhadores como ele por uma Nação mais digna e justa para
os seus filhos.
E vejo um
menino, sozinho, na Estação, (o trem a vapor ainda no seu lento
caminhar), a olhar para mim com aqueles olhos inquietos que jamais hei
de esquecer. Parecia mais o olhar daquele menino soldado, ainda tão
criança, das forças armadas de um certo império negro africano. Não
saberia dizer com precisão em que ciclo de encarnação o havia visto
tantas vezes, ou apenas num sonho ou numa vigília. Como era lindo!
(Nesse instante, os gatos plantonistas da Estação, todos de cor preta,
fizeram um circulo ao redor do menino – acho que mais de 20 gatos –
todos miando numa sonoridade que jamais vi entre os bichinhos de sua
espécie.)
Vejo o
trem, quase chegando na curva nebulosa do túnel, onde tudo
aparentemente ficara para trás, a densa nuvem de vapor negro e a fuligem
expedida por sua chaminé, a estação e a cenografia aqui retratada, até o
foguista que estava embriagado, o chefe com o seu boné sobre o peito, o
sinaleiro com a sua bandeira não mais para quê, e a hélice do relógio
do tempo parada de forma inesperada como um raio. Nesse instante, um
desses avatares que os deuses preferem mantê-los ocultos, deu uma rajada
de ventos que, de tão forte, o trem mal fazia sair do lugar, tamanho o
seu balançar. Parecia uma galé quando o vento sopra no cais.
Bem sei
que essa cenografia toda, qual filme chapliniano de cinema mudo (feito
todo em câmera lenta, com perfuração de bitola à antiga) tudo não durou
mais de um minuto, tempo para dar consistência de avanço à locomotiva. E
vem de repente à memória umas reflexões de Henri Bergson que li (era
ainda muito jovem, na casa de meu pai): no DURAÇÃO E SIMULTANEIDADE.
“ (…) Caso se trata de um trem movendo-se na via férrea, aceita-se
falar de reciprocidade enquanto o movimento permanecer uniforme: a
translação, dizem, pode ser atribuída indiferentemente à via ou ao
trem; tudo o que o físico imóvel sobre a via afirmar acerca do trem em
movimento poderia ser igualmente firmado acerca da via, que passa a ser
móvel, pelo físico que passou a ser interior ao trem. Mas basta a
velocidade do trem aumentar ou diminuir, bruscamente, basta o trem
parar: o físico interior ao trem sente uma sacudida, e a sacudida não
tem uma duplicata na ferrovia. Portanto, não mais reciprocidade quanto à
aceleração: ela se manifestaria por fenômenos dentre os quais ao menos
alguns diriam respeito a apenas um dos dois sistemas”.
Vejo a
chegada repentina de um vendedor de pequenos espelhos. Mas não são
espelhos o que ele traz na sacola, são molduras vazias e minúsculas de
espelhos. Uns com olhos de serpentes gravadas outros sob a forma de
espadas. E vejo o estranho vendedor a dizer aos tantos compradores:
“Para que os senhores desse trem não se vejam nem se olhem nunca mais”.
Antônio Campos
Advogado, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras
e curador da Fliporto
Advogado, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras
e curador da Fliporto
Contato: camposad@camposadvogados.com.br
By: Blog Fliporto
Fliporto 2013 - Olinda - PE
Como encontrar a
Maga? Onde está a Maga? Mas por que é preciso encontrar a Maga? São
algumas das premissas que Julio Cortázar lançou mão em O jogo da
amarelinha, talvez o romance que melhor colocou em perspectiva que
literatura é sorte e azar, destino e acaso. É decisão. A personagem da
Maga é o amor que pode se transformar em morte; a estrada que se bifurca
entre paraíso e inferno. Cabe ao leitor escolher o caminho e seguir.
Tudo depende da próxima página. Cortázar armou uma obra aberta, mas com
certas regras a serem obedecidas: posso ler seus 155 capítulos na ordem
que preferir. Posso começar no de número 56, voltar para o de número 12 e
depois correr para o de número 98. Cada combinação escolhida dá à
trama, e às personagens, diferente colorido. Cada combinação traz como
Prêmio uma nova Maga.
Até hoje causa
polêmica a arquitetura do clássico de Cortazár. Talvez não seja sua obra
mais perfeita, ainda que tenha resultado em seu trabalho com maior grau
de radicalidade. Lembrar Cortazár é fundamental no momento em que
expressões como jogo, gamificação e o neologismo ergódico são colocadas
em perspectiva para retratar uma literatura lúdica, competitiva e
exploratória como um futuro possível ou mesmo irremediável. Ler como um
jogo. Não mais um “jogo da amarelinha” (essa brincadeira infantil hoje
tão anacrônica), mas uma disputa entre leitores ou entre o autor e seus
leitores (quem tem mais controle sobre a trama? Quem sabe melhor o
destino dos personagens?). Até a Academia Brasileira de Letras entrou na
discussão e realizou no final de novembro o seminário Jogos e educação:
presente e futuro.
Os games são uma
nova forma de criar, capaz de influenciar a produção literária e outros
tipos de arte. Para o professor norueguês Espen Aarseth, da Universidade
de Bergen, “os jogos mudam a maneira como leitores e autores vêem o
mundo. Isso fica óbvio à medida que autores que cresceram com games
começam a escrever”. E continua: “cada vez mais pessoas passam tempo em
experiências lúdicas, exploratórias, competitivas, que são games, em
contraste com a literatura tradicional, passiva e linear”.
Pensar na leitura
como um jogo talvez seja uma forma de reapresentar a ficção para novos e
novíssimos leitores em tempos de tablets e “computadores-luz”, para
“roubarmos” aqui uma expressão de Caetano Veloso. Mas quem sabe a
leitura seja em essência uma competição, uma enorme competição, em que o
escritor arma o seu tabuleiro, cria as artimanhas de algumas regras e
assim procura seduzir prováveis “jogadores”? Ao aproximarmos a palavra
“jogo” da palavra “literatura” com tamanha ênfase agora acreditamos
estar no caminho de resgatarmos a importância da ficção, encontrando uma
nova “função” para ela. Mas há décadas Cortázar já nos alertou: ler é
jogar.
A Fliporto 2013
entrará na discussão com o tema “A literatura é um jogo” porque sabe que
um festival literário precisa ecoar o zeitgeist no qual vivem todas as
peças envolvidas no universo do livro. Só não poderemos dizer que iremos
começar a “jogar”, porque como advertiu o mestre argentino: estamos
jogando desde sempre. A diferença é que em 2013 nossa missão é
abertamente encontrar a “verdadeira Maga”.
Antônio Campos
Advogado, Escritor, Editor, Membro da Academia Pernambucana de Letras e Curador da Fliporto.
camposad@camposadvogados.com.br
Advogado, Escritor, Editor, Membro da Academia Pernambucana de Letras e Curador da Fliporto.
camposad@camposadvogados.com.br
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
Dez dicas para empreender na cultura
Dez dicas para empreender na cultura
Fonte:
Sebrae/BA
Saber gerenciar bem um projeto é a garantia de sucesso
1 - Planeje as ações
O ciclo da produção cultural demanda tempo, da ideia para viabilização do projeto temos que passar por várias fases. O ideal é trabalhar com antecedência para que todas as fases sejam bem executadas e se tornem viáveis. Faça um plano anual com os projetos que serão desenvolvidos.
2 - Faça um bom projeto
Na elaboração do projeto apresente a imagem da instituição com credibilidade e escolha três motivos principais que provam a viabilidade do projeto. Informe, no mínimo, a estrutura básica de um projeto: apresentação (o que), justificativa (porque), objetivo (para que), metodologia/ estratégia (como), recursos (com que e com quem) e orçamento (quanto). É importante que na elaboração do projeto seja previsto o formato de prestação de contas aos parceiros e investidores.
3 - Tenha acesso às Leis de Incentivo
Os enquadramentos de projetos nas Leis de Incentivo culturais, municipais, estaduais e federais facilitam a captação de recursos, com o patrocínio das empresas. Muitos editais de empresas exigem que o projeto esteja enquadrado nas leis de incentivo.
4 - Esteja sempre bem informado
Faça parte das redes de informação cultural. Por meio de boletins tem-se acesso aos editais e financiamentos do setor cultural.
5 - Prospecte patrocínios culturais
Antes de apresentar um projeto à empresa procure conhecê-la antecipadamente, informe-se sobre as ações culturais desenvolvidas e os tipos de projetos por ela patrocinados. Quanto mais a proposta se identificar com esse perfil, mais chance terá de ser patrocinada. Apresente com clareza os retornos gerados pela realização do projeto. Após a realização, apresente um relatório detalhado sobre a execução, público atingido, repercussão, publicidade e tudo o que foi gerado de mídia espontânea, com o intuito de sedimentar a credibilidade e criar um canal para futuros apoios.
6 - Dimensione o local da ação cultural
O produtor cultural deve conhecer o local do evento com antecedência, vendo suas condições para projetar as necessidades. O produtor é responsável por todos os acidentes que eventualmente ocorram nas dependências onde se realiza o evento, de forma que responderá civil e criminalmente na hipótese de dano ou morte de qualquer pessoa do público ou mesmo contratado por terceiros.
7 - Conheça as normas do setor
Os shows musicais são liberados pelo Escritório Central de Arrecadação de Direitos Autorais (Ecad). É aconselhável procurar com antecedência o órgão, que tem poderes legais para impedir a realização de um show. Os textos teatrais deverão ser autorizados pela Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT). É um direito do autor permitir a montagem da sua obra e receber por ela. Eventos que interfiram na vida da cidade devem solicitar autorização e apoio dos órgãos públicos. A relação estabelecida entre o público e o produtor cultural é regida pelo Código de Defesa do Consumidor.
8 - Exercite a cooperação
Na cultura não se trabalha sozinho. Ter uma rede de contatos e um grupo de trabalho é importante para o sucesso do projeto. Faça uma agenda de contatos com telefone e e-mail de todas as empresas, artistas e produtores do meio cultural. Em muitos momentos você terá que recorrer a ela. A integração da equipe é fator importante para o sucesso da ação cultural. Por isso, realizar reuniões sistemáticas para troca de informações é fundamental.
9 - Crie seu kit produtor e seu check list
O kit produtor é importante para evitar surpresa no evento. O produtor deverá criar sua check list, um passo a passo das necessidades do evento. Quanto mais rica a check list, menos possibilidade tem de se esquecer alguma coisa importante.
10 - Atualize-se sempre
As mudanças ocorrem cada vez mais rápidas, novas tecnologias surgem, o que se tinha como certo hoje, amanhã poderá ser diferente. Participe de cursos, seminários, oficinas, assine revistas, jornais do setor.
Profeta Gentileza - Documentário
O Profeta que Preconizava a Gentileza.
O velho de barba branca que largou tudo e partiu sem destino certo. Para alguns, louco varrido, enquanto que para outros um autêntico maluco beleza. Responsável por dezenas de inscrições na capital fluminense (RJ) onde se lê frases como "gentileza gera gentileza", José Daltrino, mais conhecido como o "Profeta Gentileza", despiu-se de seus bens materiais e partiu levando a gentileza consigo.
Autor dos famosos murais que se tornaram patrimônio cultural do Rio de Janeiro, o camponês de Cafelândia/SP, "José Agradecido", ou simplesmente "Gentileza", aprendeu cedo a dar valor à natureza ao trabalhar com a terra e os animais. Criticou o valor atribuído aos bens materiais, pregou seu desapego e caminhou por diversas regiões do País levando sua mensagem – adotando o Rio de Janeiro como sua moradia.
Conta-se que desde a adolescência o Profeta Gentileza prognosticava coisas – que não faziam sentido algum aos pais. Aos 12 anos de idade dizia que cedo ou tarde, haveria de "ter uma família, ter filhos, construir bens, mas que, um dia, teria de deixar tudo" – o que lhe rendeu visitas a psiquiatras e curandeiros espirituais.
A história do Profeta gentileza teve início após uma tragédia: em 1961, o incêndio do Gran Circus Norte-Americano instalado na Praça do Expedicionário em Niterói, Rio de Janeiro, onde mais de 500 pessoas morreram. Sentindo bastante o acontecido, teve a "revelação" (vozes) de que finalmente chegara o dia de cumprir seu destino. Com família constituída, cinco filhos e com patrimônio construído (pequena empresa de frete, três terrenos e uma casa), o Profeta Gentileza despiu-se de tudo e deu início à sua vida como andarilho.
Com aproximadamente 60 anos, empunhando seu estandarte e com a palavra na ponta da língua, Gentileza se apresentava nos locais como representante de Deus e anunciador de um novo tempo. Nas ruas, era tido como louco por uns e maluco beleza por outros, ocasião em que respondia coisas como "sou maluco para te amar e louco para te salvar" ou "seja maluco, mas seja como eu, maluco beleza, da natureza, das coisas divinas".
Segundo o próprio Gentileza, foi internado três vezes por suposta loucura. Em uma dessas internações, afirma que o psiquiatra teria dito à sua filha que ele não era louco. Contou também que, no pátio do manicômio, os demais pacientes ficavam à sua volta escutando sua mensagem. Outro médico teria dito ao Profeta: "Gentileza, você veio aqui para nós te curar ou para você nos curar?".
Em 1993, diante de problemas de saúde, o Profeta já não podia se deslocar como antes e decide retornar à família que morava na cidade de Mirandópolis/SP. Em 29 de maio de 1996, Gentileza descansou em paz falecendo aos 79 anos.
O Profeta Gentileza pode ser tido como alguém que simplesmente deixou de lado todos os vícios entranhados na sociedade. Procurou viver livre e à disposição de quem lhe desse ouvidos, também emprestando os seus. Sobre essa figura querida nas ruas da capital fluminense, foram feitas músicas, teses acadêmicas, livros e documentários. Texto: Eudes Bezerra.
Administração Imagens Históricas.
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013
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